A HISTÓRIA DO PAPEL




 Um longo e interessante caminho à procura do suporte perfeito para a transmissão e preservação da história...

  Apenas através da fala, o homem jamais poderia ter elevado sua capacidade intelectual, acredita-se que a descoberta do desenho começou com rabiscos na areia, mesmo os símbolos mais primitivos exigiam alta dose de criatividade, empregando assim dons humanos até então desconhecidos.

   Sentindo necessidade de registrar e transmitir seus conhecimentos de maneira mais duradoura, o homem desenvolvia sistemas de comunicação, nós em corda, marcas em pedaços de madeira ou de osso, pinturas nas cavernas...

Toca do Boqueirão da Pedra Furada
Pintura escolhida para a logomarca do
Parque Nacional Serra da Capivara - Piauí - Brasil 


Suportes diversos...

    Como suporte para a escrita, a pedra foi usada pelos egípcios há 6.500 anos. Na Babilônia escrevia-se sobre tabletes de argila, outro material usado pelos povos do mediterrâneo eram tabuletas cobertas de gesso ou de cera.

  No Oriente, nativos de Sumatra emendavam fatias de bambu a golpes de martelo, construindo uma esteira contínua, sobre a qual escreviam. Na Índia e no Ceilão, os nativos atavam com couro tiras de folhas de palmeira, escreviam com um instrumento de ponta dura, preenchendo os caracteres com uma pasta negra que tornava os caracteres legíveis.

  Este extenso uso de folhas como suporte de escrita e manufatura de livros resultou no nome "folha" para nomear páginas de nossos livros. 

   Os itálicos, gregos, romanos, indianos e indonésios utilizaram metais e deixaram inúmeros documentos gravados sobre lâminas de cobre, bronze, latão, chumbo e até mesmo sobre ouro e prata.

    Na América pré-colombiana usavam-se cascas de árvores batidas, onde  registravam informações sobre astrologia, geografia e vida de pessoas ilustres, infelizmente pouca coisa sobrou à fúria dos conquistadores que atearam fogo em tudo.


Papiro e pergaminho...

    No Egito, 3200 ac,  utilizava-se o papiro, retirando fatias finas da casca, que depois de lavadas, eram dispostas umas sobre as outras, formando um trançado. Posteriormente prensadas, secas e polidas, transformavam-se numa superfície flexível, sensível à tinta.

O papiro é o que mais se aproxima das características do papel como é conhecido hoje, tornou-se tão popular entre gregos, romanos e povos vizinhos que, temendo sua escassez, os mandatários egípcios proibiram sua exportação 
no século II de nossa Era.


A palavra Papel provém do nome grego desta planta: PAPYRUS.

    Os principais documentos do Império Romano eram escritos sobre o papiro e ainda se conservam vinte e uma bulas papais escritas sobre este suporte entre 892 e 1017, o que nos dá a indicação clara da importância do papiro até a Idade Média.





Papiro Bodmer XIV-XV (P75), f. 1B2v
(Lucas 11,1-13; Lê-se o Pai Nosso nas linhas: 7 a 13)

http://www.vaticanlibrary.va/home.php?pag=BODMER_XIV_XV#


perg
Pergaminheiro alemão, 1568
http://tipografos.net/glossario/pergaminho.html 

  Entre os povos nômades da Ásia Menor encontra-se a utilização do pergaminho,  há provas do seu uso no período entre 258 e 197 aC na  cidade de Pérgamo. O pergaminho é obtido da pele de cabras, ovelhas e vitelos.

    Durante muito tempo o pergaminho e o papiro mantiveram concorrência, o elevado custo do pergaminho poderia ter constituído um freio à sua expansão, porém sua durabilidade e funcionalidade, características que aliadas às invasões árabes sofridas pelo Egito, e a exploração intensiva do papiro, esgotando a terra onde eram cultivados, contribuíram para seu trunfo.



Os chineses e sua magnífica invenção...




    Ao contrário do Ocidente, onde o instrumento de escrita era duro e pontiagudo e o suporte grosso e resistente, na China a arte da caligrafia era exercida com o pincel de pelo, e como suporte usavam tecidos 
de algodão e de seda.

     Escavações arqueológicas na China descobriram fragmentos de papéis  que podem datar: nas regiões de Baqiao entre o ano 140 e 87 AC,  de Futeng entre o ano 73 e 49 AC e de Juyan entre o ano 52 e 6 AC. Estes papéis já possuíam a característica do entrelaçamento das fibras.


Ts'ai Lun
    A invenção do papel       é atribuída ao oficial 
       da corte chinesa 
         Ts'ai Lun, no 
         ano de 105DC, 
         seu trabalho
          na corte era 
        como secretário e
 seus experimentos começaram com o objetivo de procurar  um suporte para a 
escrita mais barato  do que a seda.

 Ts'ai Lun apresentou ao Imperador sua pesquisa  onde o resultado era um novo material apropriado para absorver tinta, preparado sobre uma tela de pano esticada por uma armação de bambu. Sobre a tela, jogava-se uma mistura aquosa de fibras maceradas em pilão, provenientes de rede de pescar, e fibras da amoreira, do cânhamo e de bambu.


  T'sai Lun foi o precursor na descoberta do dispersante a ser usado na pasta para facilitar o entrelaçamento de fibras, usando um tipo de quiabo selvagem.

  Depois de vários anos de provas, foi instalada a primeira fábrica, na província de Honan, no Turquistão Mongólico.

  Durante 500 anos o segredo da fabricação do papel foi mantido pelos chineses.

     Nenhum material versátil, resistente e barato como o papel foi inventado. Sua descoberta é tida como um dos passos mais importantes do homem rumo ao progresso.


O segredo começa a ser descoberto...




Pelos Japoneses




Por volta do ano 600, monges budistas levam a técnica da fabricação do papel à região norte da Coréia. Os coreanos introduziram modificações e deram ao papel outras finalidades, como empregá-lo na construção de casas, no piso e no revestimento de janelas e portas.

No ano de 610, um monge coreano leva ao Japão o segredo da fabricação do papel. Os japoneses incorporaram a técnica quase que imediatamente, pesquisaram fibras e técnicas, as plantas mais usadas no Japão foram o Kozo, Gampi e Matsumata.
A primeira impressão xilográfica em massa da história foi no Japão, em 770 d.C. quando a imperatriz Shotoku mandou fazer um milhão de cópias de um texto sagrado, e foram necessários seis anos para a realização da ordem imperial.




Pelos muçulmanos...




Quando chineses e muçulmanos, no ano de 751, travam a batalha de Athah, perto de Samarcanda, no norte da Pérsia, os muçulmanos, vencedores, obtém de papeleiros prisioneiros o segredo da fabricação do papel. Em Samarcanda, região onde havia muito linho e cânhamo e canais de irrigação onde fluía água pura, a produção de papel floresceu, os árabes levaram o papel para Bagdá, Cairo, Fez,  sendo introduzido na Europa pela Espanha.

A expansão do papel foi lenta na Europa por dois motivos: o preço, que durante muito tempo foi tão elevado como o do pergaminho e o preconceito da nobreza de alguns países que consideravam seu uso indevido por ser fabricado por Judeus e Árabes.

Depois da Espanha, o processo passou pela França e Itália posteriormente pela Alemanha, indo para os Estados Unidos em 1690.





O papel, a impressão e a vespa...

Na Europa, a matéria prima usada para a confecção do papel era o 
linho e o algodão, oriundo de roupas velhas. O  molde oriental de bambu foi substituído por uma estrutura de madeira mais sólida, e como a secagem nas telas era demorada, começaram a usar a transferência da folha 
molhada para o feltro.A maior diferença estava no instrumento de escrita, ao contrário dos pincéis macios dos chineses, 
os europeus escreviam com penas rígidas e tintas aquosas, para que o papel pudesse resistir eles mergulhavam a folha pronta num 
tanque  com cola feita a base de pele e ossos de animais.


Como imprimir...

Os orientais usavam blocos de madeira tintados, que com simples pressão manual sobre suas folhas finas imprimiam livros encadernados de forma sanfonada, pois a finura das folhas só permita 
a impressão de um lado.

Gutenberg...

O papel duro europeu não permitia a impressão manual, isto levou Gutenberg a conceber a prensa, capaz de aplicar força aos blocos tintados. O papel espesso possibilitou a impressão frente e verso.

Com o aumento do consumo de textos impressos, o papel começou a baratear. Lentamente o nível de alfabetização aumentou, declinando o poder da camada esclarecida da sociedade, que durante muito tempo manipulou o papel como instrumento de conhecimento e poder.

Consumo e a vespa...

Com o aumento do consumo do papel através de livros, revistas e jornais a escassez do algodão e linho chegou a tal ponto que trapos começaram a ser negociados em troca de livros, anéis e agulhas.

A escassez pode ser entendida com o despropósito do seguinte episódio: "Um fabricante de papel do Maine nos Estados Unidos chegou a importar grande quantidade de múmias do Egito para aproveitar o tecido de algodão que as envolvia, este papel posteriormente foi vendido a padeiros e açougueiros".

Mais produtivo, um decreto do Parlamento Inglês estabeleceu, em 1666, que os mortos só seriam enterrados em trajes de lã, salvando toneladas de linho e algodão.

Na renascença o papel era utilizado em gravuras, aprimoraram-se técnicas de impressão, com o aumento da procura pelo papel, ampliaram-se as pesquisas de fontes de matérias primas abundantes e baratas.

Após testes com diversos vegetais, em 1719,  o cientista René de Reaumur apresenta à Academia de Ciências Francesa sua conclusão: a madeira era a matéria-prima adequada.
Sua pesquisa baseou-se na observação do trabalho das vespas na construção de seus ninhos: mastigando partículas de madeira, o inseto separa, na boca, as fibras de celulose que, vertidas, tornam-se a trama do ninho.

Uma observação microscópica revela a semelhança entre o emaranhado do ninho e o da folha de papel.

Em meados do séc. XIX surge a demanda de papel para a impressão de livros, jornais e fabricação de outros produtos de consumo, levando à busca de fontes alternativas de fibras a serem transformadas em papel.

Em 1854 é patenteado na Inglaterra um processo de produção de pasta celulósica através de tratamento com soda cáustica. A lignina, cimento orgânico que une as fibras, é dissolvida e removida, surgindo a primeira pasta química.


No Brasil...

 1809 Frei José Mariano Velozo, produz a primeira folha de papel artesanal utilizando a fibra da embira.

 1810 surge a primeira fábrica de papel em Andaraí Pequeno, Rio de Janeiro, a segunda  em 1837, no Rio de Janeiro, em 1843, o Engenho de Conceição na Bahia explora a fibra de bananeira.

 16 de setembro de 1889 é fabricado o primeiro papel industrial pela Companhia Paulista de papel da Vila Salto de Itú.

Em 2010 o Brasil foi o 10% produtor mundial de papel,  toda a produção de celulose tem origem em florestas plantadas.

A produção e
A Reciclagem Industrial...


Em 2010, o Brasil foi o 10% produtor mundial de papel,  toda a produção de celulose tem origem em florestas plantadas.

Em 2009, 46% dos papéis que circularam no país foram reciclados. São excluídos desta estatística os papéis impróprios para reciclagem (higiênicos, por exemplo) e utilizados para outros fins, como telhas.

O consumo nacional de aparas:
2001 - 2.777 mil toneladas
2011 - 4.083 mil toneladas